Cartas a um novo convertido - 7 - O Senhor Jesus Cristo no centro

O Senhor Jesus Cristo no centro

Prezado irmão,

É muito importante que você compreenda claramente o que significa a presença do Senhor no centro da assembléia; mas a condição necessária para que a promessa da Sua presença seja cumprida também não pode ser esquecida. Ele nunca prometeu estar em qualquer lugar onde os santos estivessem reunidos e nem tampouco afirmou que todos os que se reunissem, como cristãos, para adorá-Lo, poderiam contar com Sua presença. Suas palavras são: "Onde estiverem dois ou três reunidos em Meu nome, aí, estou Eu no meio deles". (Mateus 18.20) Sendo assim, a condição essencial é que os santos estejam reunidos em (ou 'ao') Seu nome, e se isto não for cumprido na íntegra, a promessa da Sua presença não será levada a efeito.

Nosso primeiro objetivo, portanto, será explicar o que significa esta condição. Devo esclarecer que uma tradução mais correta do texto seria "para" ou "ao Meu nome", pois a preposição aqui usada como "em" invariavelmente tem o significado de "em o", "ao" ou "para". Portanto o significado mais apropriado aqui é "reunidos ao Meu nome". Cabe ainda ressaltar que esse "nome" não é usado aqui apenas como um título, mas, como normalmente acontece nas Escrituras, trata-se de uma expressão de tudo o que Cristo é. Assim, quando o Senhor Se dirige ao Pai, para falar de Seus discípulos, dizendo, "Eu lhes fiz conhecer o Teu nome, e lho farei conhecer mais" (João 17.26a), não estava querendo dizer que revelou-lhes meramente o fato de que Deus também leva o nome de Pai, mas que esteve lhes ensinando tudo o que Deus era para eles nesta relação de parentesco. E acrescenta que já havia feito isso, e também ainda iria fazê-lo, "para que o amor com que Me tens amado esteja neles, e Eu neles esteja". (João 17.26b) O que Ele desejava era que os discípulos entendessem o que Deus era para eles como Pai, e ainda revelava que eles seriam levados a desfrutar de todo o amor que Deus, como Pai, tinha para lhes dar. De um modo semelhante, a palavra "nome" na passagem citada no início (Mateus 18.20) expressa tudo o que Cristo é como homem glorificado e como Senhor no relacionamento que agora mantém com o Seu povo. Quando digo que agora mantém é porque ficou bem evidente que as palavras em João 17.26 foram proferidas acerca de uma época quando Ele estaria ausente. Do mesmo modo, em Mateus 16.18 Ele diz, "edificarei a Minha Igreja", apontando para uma época futura, e a passagem na qual a palavra "nome" ocorre (Mateus 18.20) está ligada à ação disciplinar da igreja no versículo 17. É óbvio que enquanto Ele estava neste mundo os discípulos não poderiam estar reunidos ao Seu nome, pois ainda estavam com Ele, seu Mestre e Senhor.

Podemos então tomar a palavra "nome" como expressão da Pessoa de Cristo - Ele próprio, em toda a verdade da Sua Pessoa, como Aquele que foi ressuscitado e glorificado à destra de Deus. Fica evidente que Cristo é o único objeto que nos une, e nosso único centro de atração quando estamos reunidos, pois o Espírito Santo nunca irá reunir crentes para qualquer outra coisa senão Cristo. Basta qualquer coisa ser acrescentada - seja uma doutrina peculiar, ou uma forma de governo eclesiástico em especial - e a reunião já não estará em conformidade com o pensamento de Deus. Se, por exemplo, eu concordasse em me reunir com alguns outros crentes com pontos de vista em comum, não poderíamos estar reunidos somente ao nome de Cristo, pois algo estaria sendo acrescentado ou suprimido. Mas se estivesse reunido com aqueles que reconhecem que o próprio Cristo é o único centro de atração; com aqueles que aceitam Sua autoridade como Senhor; que se submetem à Sua Palavra, e deixam que tudo seja regido por ela quando reunidos, então a reunião seria ao Seu nome. E somente neste caso, pois onde for reconhecida a autoridade do homem, suas tradições ou seus regulamentos, não importa qual seja o grau de piedade individual daqueles envolvidos, não se trata de uma reunião no mesmo caráter.

Ora, é somente no meio de Seu povo reunido desse modo que o Senhor prometeu estar. "Aí, estou Eu no meio deles." Isto por si só demonstra a extrema importância de se estar reunido ao Seu nome, pois, como dissemos, se esta condição for negligenciada, não teremos fundamento algum para contar com a Sua presença. Não basta falarmos que estamos cumprindo esta condição. O ponto essencial é: Será que o Senhor reconhece que a estamos cumprindo? Ele é o Juiz. Portanto seria uma presunção contar com a Sua presença em nosso meio, se estivéssemos nos reunindo de acordo com nossos próprios pensamentos - sem levar em consideração a Sua Palavra. Mas "onde estiverem dois ou três reunidos em (ou ao) Meu nome, aí, estou Eu no meio deles".

Portanto, sabemos que Ele está no meio dos que assim se reúnem com base na autoridade da Sua Palavra. E isto não é tudo, mas, como que para nos suprir em nossas fraquezas, Ele deixou amostra da maneira como vem para o meio dos Seus. Assim, na tarde do primeiro dia da semana, após haver ressuscitado de entre os mortos, encontramos os discípulos reunidos (João 20.19). Ele havia enviado Maria aos Seus irmãos com a mensagem: "Dize-lhes que Eu subo para Meu Pai e vosso Pai, Meu Deus e vosso Deus". (João 20.17) Conforme o Salmo 22.22, Ele declarou assim o nome de Deus aos Seus irmãos, revelando que os transportara, por meio de Sua morte e ressurreição, ao lugar que Ele mesmo ocupa diante de Deus. Daí em diante o Seu Deus e Pai era o Deus e Pai deles também. Estavam dessa forma associados com Ele nesse parentesco, com base na ressurreição. Aquela mensagem fez com que se reunissem ao Seu nome e, quando estavam assim reunidos, "chegou Jesus, e pôs-Se no meio, e disse-lhes: Paz seja convosco". (João 20.19) Dessa forma Ele nos deixou um exemplo da maneira como vem para o meio do Seu povo, de modo a termos em nossas almas a certeza da Sua Palavra sendo confirmada.

Alguém poderia ser tentado a questionar: Seria possível, nos dias de hoje, o Senhor estar no meio do Seu povo reunido ao Seu nome? A resposta a este tipo de dúvida está no surpreendente registro de como o Senhor Se colocou no meio dos Seus discípulos no primeiro dia da semana. Aquilo não apenas soluciona esta questão, como também serve de alerta para um perigo mais sutil: alguém poderia ser inclinado a objetar, em incredulidade, que se hoje pudéssemos vê-Lo com nossos olhos, como aconteceu com os discípulos, então poderíamos ter certeza da Sua presença. O Senhor conhecia a fraqueza e sutileza de nosso pobre e débil coração, e assim, com terno amor, deixou-nos uma admoestação suficiente para não cairmos nesse engano. Um dos discípulos, Tomé, "não estava com eles quando veio Jesus" (João 20.24). Outros discípulos lhe disseram: "Vimos o Senhor" (vers. 25). Mas ele lhes respondeu: "Se eu não vir o sinal dos cravos em Suas mãos e não meter o dedo no lugar dos cravos, e não meter a minha mão no Seu lado, de maneira nenhuma o crerei". Oito dias depois, todos eles, inclusive Tomé, estavam reunidos outra vez, e como da vez anterior, "chegou Jesus, estando as portas fechadas, e apresentou-Se no meio, e disse: Paz seja convosco. Depois disse a Tomé [pois Ele havia escutado cada palavra de Tomé]: Põe aqui o teu dedo, e vê as Minhas mãos; e chega a tua mão, e mete-a no Meu lado; e não sejas incrédulo, mas crente". Tomé, inundado pela Sua terna graça e tolhido pelo sentimento de sua própria pecaminosidade, só pôde exclamar: "Senhor meu, e Deus meu!" Por isso "disse-lhe Jesus: Porque Me viste, Tomé, creste; bem-aventurados os que não viram e creram" (vers. 25-29). Dessa forma (sem entrarmos aqui na aplicação desta cena significando a conversão do remanescente judeu, quando olharão para Aquele a Quem traspassaram) o Senhor já tinha em vista os que viriam a crer por meio da palavra de Seus discípulos, e que seriam bem-aventurados. E essa bem-aventurança diz respeito a nós, pois embora não O vejamos, cremos que, de acordo com a Sua própria Palavra, Ele está em nosso meio quando nos reunimos ao Seu nome.

Todavia deveria sempre ser lembrado que é Ele próprio que Se encontra no meio - não "em espírito", como se costuma dizer, mas a Sua própria Pessoa; pois as palavras são: "Aí estou Eu", e o pronome "Eu" expressa tudo o que Ele é. É Cristo - e não o Espírito Santo, mas Cristo - que está no meio dos Seus santos reunidos. É certo que o Espírito Santo, que habita na casa de Deus, atua por meio dos membros individuais do corpo de Cristo, quando reunidos ao Seu nome, e ministra por meio de quem Ele escolhe, para edificação dos santos. Mas trata-se do próprio Cristo, eu repito, Quem vem para o nosso meio. Sua presença só pode ser compreendida por meio do Espírito, mas isto é um outro assunto De qualquer modo Ele está no meio onde dois ou três estiverem reunidos ao Seu nome, seja isto compreendido ou não. Quão maravilhosa é Sua graça e benevolência!

Nunca se esqueça, portanto, de que é ao redor do próprio Senhor que estamos reunidos. Ainda que existam apenas dois - e Suas palavras são "onde estiverem dois ou três reunidos em Meu nome" - aí Ele está no meio. Tão logo dois se reúnam assim, já podem se regozijar na certeza de que o Senhor está ali. Nossa fé pode ser fraca, e nossa compreensão débil, mas ainda assim permanece o fato de que Ele está presente, pois isto não depende do que sentimos ou experimentamos, mas unicamente do fato de estarmos reunidos ao Seu nome somente. Como poderíamos deixar de nos congregar, como muitos fazem (Hebreus 10.25), quando sabemos que o Senhor é o centro da assembléia e que Ele está em nosso meio de uma forma tão real quanto no primeiro dia da ressurreição? Por que Tomé estava ausente naquela ocasião? Porque não acreditava na ressurreição de seu Senhor e, por conseguinte, não contava com a Sua presença! Do mesmo modo hoje, quando alguém se ausenta da reunião da assembléia (não me refiro aqui àqueles que o fazem por uma dificuldade, obrigação ou outra circunstância), o faz porque não acredita que o Senhor realmente esteja no centro. E ao nos reunirmos, que reverência, que afeições, que adoração inundaria nosso coração se, por intermédio do Espírito, compreendêssemos mais completamente que Aquele que desceu até à morte carregado com nossos pecados; que pelo Seu sangue nos redimiu para Deus; ressuscitou, e agora, como Aquele que está exaltado e glorificado, Se compraz em estar no meio da congregação, a dirigir o Seu povo em adoração! (Leia o Salmo 22.22).

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Breve Biografia de Edward Dennett

Edward Dennett nasceu em Bembridge, Isle of Wight, em 1841 e partiu para estar com o Senhor em Croydon em Outubro de 1914. Ele se converteu ainda jovem por intermédio de um clérigo piedoso e sua família pertencia à Igreja Anglicana, a qual ele abandonou por convicções pessoais.

Graduou-se pela London University e assumiu o posto de ministro de uma congregação Batista em Greenwich. Após adoecer gravemente foi enviado à Suíça em Março de 1873 para tratamento e, enquanto estava em Veytaux, reconheceu que sua posição contra os "Plymouth Brethren" e o livro que escreveu criticando o movimento não tinham fundamento bíblico.

De volta à Inglaterra apresentou suas convicções à congregação que dirigia e deixou-a. Depois de estudar os ensinos dos "irmãos" e compará-los com as Escrituras, entrou em contato com William Kelly e acabou tomando seu lugar em comunhão. Dennett trabalhou na obra do Senhor na Inglaterra, Escócia, Irlanda e também visitou a Noruega, Suécia e América do Norte.

Um acervo das obras de Edward Dennett em inglês pode ser encontrado na Bible Truth Publishers (em formato impresso ou digital) e em Stempublishing (digital).